sábado, 31 de janeiro de 2009
quinta-feira, 29 de janeiro de 2009
Mas Lídia não enlaçou a sua mão.
“
Vem sentar-te comigo Lídia, à beira do rio.
Sossegadamente fitemos o seu curso e aprendamos
Que a vida passa, e não estamos de mãos enlaçadas.
(Enlacemos as mãos.)
“
Ricardo Reis
Ficou quieta com as suas mãos sobre o regaço.
Estava confortável assim e de momento não sentia que
devesse dar as mãos.
Talvez mais tarde, mas agora não lhe apetecia.
E assim ficaram, de mãos não enlaçadas a olhar o rio.
Mas havia algo que a impedia de o fazer.
A mesma força interior que a impediria sempre de dar a mão.
Por vezes, ele gostava mesmo de poder dar as mãos,
não só á beirado rio,
mas caminhar,
especialmente caminhar pela vida de mãos dadas.
Mas não conseguia.
Talvez mais tarde, mas agora não conseguia.
Vício
Será vício?
Vício de uma música simpática e alegre.
Ou vício do conforto das suaves vibrações sonoras, que transmitem cor, calor, calma, carinho...
Embora não perceba uma palavra do que é dito, tenho a certeza que são coisas bonitas.
Aqui fica um ideia da musica (pimba de certeza) indiana ou turca ou árabe, world em geral!, que tenho andado a ouvir..
quarta-feira, 28 de janeiro de 2009
Contos, 3
Um dia pensei, vou sair à rua como vim ao mundo: nua.
Então, numa manha de Outono, ganhei coragem e foi assim:
Sai à rua. Eram 8 da manha, numa rua pouco movimentada da capital.
A primeira sensação foi de frio. Todo o meu corpo começou de súbito a tremer.
Com alguma dificuldade comecei a andar. As pedras da calçada tocavam nos meus pés frios como laminas afiadas. Decidi caminhar na estrada de alcatrão, pouco melhor.
Mas continuei, sem decidir onde iria, continuei a descer a rua.
A primeira vítima da minha nudez foi uma muito pouco simpática senhora. Especou a olhar e como se fosse o fim do mundo rogou pragas e apelou aos deuses e demónios!
Sorri e continuei.
Passando em frente do café lá da rua, recebi uma horda enfurecida de olhares masculinos. Embatiam sobretudo nos meus seios, mas rapidamente escorriam com a gravidade…
Mais uma vez sorri, e continuei.
Chegava agora ao terminal dos autocarros, sinonimo de movimento. Foi como se Moisés passasse. A multidão apartou-se e com esgares ora de horror ora de prazer, contemplavam o que julgava ser a minha insanidade.
Então, de um momento para o outro surgem as sirenes.
terça-feira, 27 de janeiro de 2009
Tenho Tanto Sentimento
Que é frequente persuadir-me
De que sou sentimental,
Mas reconheço, ao medir-me,
Que tudo isso é pensamento,
Que não senti afinal.
Temos, todos que vivemos,
Uma vida que é vivida
E outra vida que é pensada,
E a única vida que temos
É essa que é dividida
Entre a verdadeira e a errada.
Qual porém é a verdadeira
E qual errada, ninguém
Nos saberá explicar;
E vivemos de maneira
Que a vida que a gente tem
É a que tem que pensar.
Fernando Pessoa, in "Cancioneiro"