terça-feira, 9 de novembro de 2010

Não percebo porquê o frio.

Ele estava sentado na última fila, sozinho no fundo da sala. Recostou-se, cruzou as pernas e assim a contemplava.

Ela concentrada, prestava atenção à peça, sentia e vivia o drama na sua pele. E arrepiava-se. ouvindo um ruído lá atrás, virou-se curiosa para ver quem passava. Estranho, ninguém. Retomou o seu estado de concentração, mas não podia deixar de ouvir o ruído atrás de si, ruído de alguém que inquieto se debate na cadeira. Voltou a olhar, continuava a não estar lá ninguém. Pensou que seria lá fora, mas sabia bem que do outro lado nada havia.

Ele continuava lá, cada vez mais irrequieto, queria avançar, alcança-la, estar perto dela. Mas ela sentia-o e ele temia. Deixou-se ficar, numa transparente frustração.

Ela continuava desconfiada, e de vez em vez, lá olhava para algo que não estava lá. Entretanto a peça acabou, ela levantou-se. Primeiro para aplaudir e de seguida para encontrar no meio da multidão o caminho para a rua. Ele então aproveitou, era a tão esperada oportunidade. Chegou perto dela, olhou-a nos olhos, abraçou-a, beijou-a, sussurrou-lhe doces palavras ao ouvido, e sentiu o doce perfume que emanava do seu quente e palpitante pescoço. E ela nunca soube… Continuava envolta na multidão. Alcançou a soleira da porta, deu um passo, e ele ficou para trás, preso. Agora sozinho, continuava a senti-la. E na esperança que um fantasma não tem, esperava o seu regresso.

1 comentário:

Rubi Girão disse...

Esse até era quentinho, ou procurava o calor.