
O Eterno Marido
Muito bom de ler. Boa história, boas personagens, bom "ambiente".
Segue-se "Capitão Richard" do Sr. Dumas, e depois "O Jogador" de regresso...
Quanto mais tenho que fazer, mais vontade tenho de ler...
Divagar, divagar é a palavra certa.
Ele estava sentado na última fila, sozinho no fundo da sala. Recostou-se, cruzou as pernas e assim a contemplava.
Ela concentrada, prestava atenção à peça, sentia e vivia o drama na sua pele. E arrepiava-se. ouvindo um ruído lá atrás, virou-se curiosa para ver quem passava. Estranho, ninguém. Retomou o seu estado de concentração, mas não podia deixar de ouvir o ruído atrás de si, ruído de alguém que inquieto se debate na cadeira. Voltou a olhar, continuava a não estar lá ninguém. Pensou que seria lá fora, mas sabia bem que do outro lado nada havia.
Ele continuava lá, cada vez mais irrequieto, queria avançar, alcança-la, estar perto dela. Mas ela sentia-o e ele temia. Deixou-se ficar, numa transparente frustração.
Ela continuava desconfiada, e de vez em vez, lá olhava para algo que não estava lá. Entretanto a peça acabou, ela levantou-se. Primeiro para aplaudir e de seguida para encontrar no meio da multidão o caminho para a rua. Ele então aproveitou, era a tão esperada oportunidade. Chegou perto dela, olhou-a nos olhos, abraçou-a, beijou-a, sussurrou-lhe doces palavras ao ouvido, e sentiu o doce perfume que emanava do seu quente e palpitante pescoço. E ela nunca soube… Continuava envolta na multidão. Alcançou a soleira da porta, deu um passo, e ele ficou para trás, preso. Agora sozinho, continuava a senti-la. E na esperança que um fantasma não tem, esperava o seu regresso.
Depois de mais uma noite de trabalho, ela chegou a casa. À sua pequena e acolhedora casa no centro da cidade. Tirou os sapatos, e abriu as janelas. Entrou a brisa da noite, já não tão quente como outrora, mas ainda agradável e doce, abraçou-a e ela inspirou-a como se fosse um perfume de Outono. No seu antigo giros discos meteu a sua amiga Billie a girar… Hum...que prazer. Acendeu as velas que decoravam a pacata e confortável salinha. Na cozinha abriu uma garrafa, encheu o seu copo. Foi aconchegar-se no seu recanto, o sofá redondo, que acompanhava a redonda janela com vista para o parque. Aninhou-se e acendeu o cigarro… Bebericava suaves tragos do bom vinho que gentilmente lhe aquecia o corpo e alma. E levemente ia fumando o seu vicio... Escutava com saudade o som antigo que gemia do gira discos… Pobre actriz, daquele teatro de fundo de rua escura onde apenas entre quem o sabe, encontrava no seu sofá, já coçado do tempo, o maior prazer do dia. Fazer amor com a sua mente…
E entre o fumo do cigarro, a luz tremula das velas reflectida no vermelhão do vinho espelhava no vidro a sua face, pálida, mas feliz…
Era o seu vigésimo segundo aniversario.
Depois de um longo dia de trabalho era necessário aproveitar aquela fantástica noite de verão.
Chegou a casa e como sempre, tirou as sandálias e saltou para o sofá. Fazia já parte da sua vida, o velho sofá. Estava já u pouco atrasada, mas saboreou ainda mais um pouco a doce relação que tinha com o seu sofá. Depois lá se arrastou para um duche, breve, mas agradável. Era já hora de estar no restaurante mas como aniversariante, tinha desculpa. Levou assim algum tempo a arranjar-se, contemplou o seu o seu esbelto e bronzeado corpo ao espelho., pensando com o quê o adornar. Vestiu o leve e elegante vestido comprido, cheio de flores quentes, que tão bem lhe caia na pela morena e perfumada. Mais uns retoques, e saiu de casa…
Quando chegou já todos estavam sentados à mesa. Os amigos de infância, as colegas de vida recente, e o amor da sua vida. Ao lado do qual estava guardado o seu lugar. Sorridente, cumprimentou-os a todos, um por um, com um sentido beijo e um apertado abraço. Reservando para o ultimo, um beijo mais que sentido. Começaram a jantar, por entre os vapores da comida, brilhavam sorrisos, conversas e brindes
Findado o jantar, era já longe na noite. Sendo o dia seguinte dia de trabalho, cada qual se dirigiu para sua casa, após longas e apaixonadas despedias.
Mas para ela era ainda cedo. Abraçou-o e caminharam mais um pouco pela rua quente e movimentada. Havia ainda tempo para mais uns dedos de conversa, uns tragos de alegria.
Ficaram por momentos perdidos no tempo, mas o cansaço acusa, e o regresso a casa aproximava-os do táxi.
Entraram, ela aninhou-se no seu ombro, enlaçando a mão na mão. Mas rapidamente chegaram ao destino.
Abraçados subiram a pequena ruela que os separava de casa. A brisa envolvia os seus cabelos espalhando pelo ar o doce e suave aroma, ele aproximava-se, inspirava o doce ser que era ela, e com ternura envolvi a sua frágil e delicada cintura. Eles nem se apercebiam, mas na sua mente, estava já a fazer amor.
Mas, subitamente alguém subia a rua a correr, um passo nervoso e apressado. Viraram-se para ver quem seria, mas antes que o pudessem confrontar, disparou dois tiros. Pum, Pum.
Caíram os dois prostrados no chão. Primeiro ele, ela logo de seguida.